Dilma no Rio de Janeiro e o panorama de uma importante semana de lutas

 

Por Fabio Rodrigues

Nos últimos sete dias, a cidade do Rio de Janeiro viveu uma importante semana de lutas, expressão tanto do panorama político nacional – onde destaca-se a resistência contra o golpe – quanto das questões políticas e sociais específicas da cidade, sobretudo o caso do estupro coletivo ocorrido no dia 21/05 e as articulações partidárias dos pré-candidatos à prefeitura, questões essas que, apesar disso, não deixam de estar conectadas e serem representativas para todo o conjunto da sociedade, pois são questões que, dentro das especificidades de cada estado ou município, devem estar na pauta do dia de todas as lutas: os retrocessos sociais e o avanço dos discursos de ódio a determinadas parcelas da população, aliados à falta de sensibilidade e representatividade do governo golpista e a necessidade da articulação e unidade da esquerda e das forças progressistas, não apenas na luta eleitoral e institucional, mas, sobretudo nas ruas e na mobilização popular para barrar o golpe e avançar na construção de uma sociedade realmente justa, livre e democrática.

Um primeiro ato a ser destacado foi o que ocorreu no último sábado, dia 28/05, no calçadão de Campo Grande, Zona Oeste da cidade, organizado pela Frente Brasil Popular dessa região, que contou com a presença de importantes figuras políticas, entre elas o deputado estadual Waldeck Carneiro do PT-RJ, a deputada federal e ex-governadora do estado do Rio de Janeiro, Benedita da Silva do PT-RJ e a deputada federal e pré-candidata à prefeitura do Rio, Jandira Feghali do PCdoB-RJ, entre outros. Além dos representantes dos partidos políticos, participaram do ato o movimento de mulheres, principalmente o “Mulheres pela Democracia”, militantes sociais de toda a região e integrantes dos movimentos: negro, de bairros, sindical e estudantil. Durante as diversas intervenções realizadas, o foco das denúncias esteve nos retrocessos e prejuízos que o golpe traz aos trabalhadores e às trabalhadoras e nos áudios vazados por Sérgio Machado, que levaram à queda do ministro golpista do planejamento, Romero Jucá e que expuseram de forma inquestionável que o golpe foi orquestrado por uma quadrilha de bandidos para fugir da cadeia. No entanto, como não poderia deixar de ser, a atividade teve como outra grande questão o estupro coletivo ocorrido em Santa Cruz, bairro vizinho a Campo Grande, de modo que todos procuraram em suas falas demonstrar todo o seu repúdio a esse crime execrável. Infelizmente, essa e outras violências são constantes na vida dos moradores dessa região tão abandonada pelo poder público. O ato foi encerrado com uma passeata pelo calçadão com faixas, cartazes, bandeiras e palavras de ordem contra o golpe e a favor à vida das mulheres e do respeito a elas.

Ato da Frente Brasil Popular-Zona Oeste/Rio no calçadão de Campo Grande
Ato da Frente Brasil Popular-Zona Oeste/Rio no calçadão de Campo Grande.

Muito significativa foi, também, a plenária unificada das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, em parceria com o Movimento Ocupa MINC, realizada na noite da última segunda-feira, dia 30 de Maio, no “Palácio Capanema” (antiga sede do Ministério da Cultura) no Rio de Janeiro. Entre outras questões, a plenária tratou da unificação das agendas de luta entre ambas as Frentes no estado do Rio de Janeiro. É preciso, nesse ponto, fazer uma menção de louvor ao Movimento Ocupa MINC, que há quase um mês vem mantendo firme e ativa a ocupação do “Palácio” em protesto à extinção do Ministério da Cultura pelo presidente ilegítimo e golpista Michel Temer, que, diante de toda a mobilização contra esse ato covarde e arbitrário, voltou atrás em sua decisão. No entanto, mesmo com essa vitória inicial, a ocupação prosseguiu e vem sendo um polo de referência e resistência contra o golpe no município do Rio de Janeiro, onde praticamente todos os dias acontecem atividades culturais e políticas.

Plenária das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo no Palácio Capanema.
Plenária das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo no Palácio Capanema.

Na Quarta-Feira, dia 01 de Junho, aconteceu o ato “Por Todas Elas”, organizado por diversos coletivos de mulheres, que teve por finalidade denunciar o machismo e a cultura do estupro, principalmente a partir do caso do estupro coletivo já citado. Com concentração na Candelária, mais de trinta mil mulheres marcharam até a Central do Brasil, tendo como alguns dos principais denunciados o governo golpista e seus aliados – que além de não serem representativo para as mulheres, ainda tentam dificultar o aborto em casos de estupro, o que é um direito e uma conquista da luta de todas as mulheres – o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha e o possível candidato do PMDB à prefeitura do Rio de Janeiro, Pedro Paulo, conhecido por ter agredido violentamente sua esposa.

Ato "Por Todas Elas" na av. Presidente Vargas.
Ato “Por Todas Elas”, na av. Presidente Vargas.

Logo no dia seguinte, 02 de Junho, ocorreu o mais representativo dos atos dessa semana, o “Mulheres Pela Democracia”, que teve concentração no Largo da Carioca e saiu em marcha até a Praça XV, onde milhares de pessoas esperaram pela presença da legítima presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. Antes da chegada de Dilma, houve a intervenção de mulheres de diversas organizações políticas e sociais com ênfase nas mesmas denúncias já citadas e, depois, já com a presença da presidenta no palco, ocorreram as intervenções de Benedita da Silva, Jandira Feghali e das representantes das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, entre outras. No momento mais esperado da noite, o povo foi ao delírio quando a nossa presidenta Dilma começou sua intervenção. Em sua fala, Dilma, entre outros pontos, destacou a importância da luta contra o golpe e contra a violência à mulher, lembrando que o Rio de Janeiro, que é um símbolo do Brasil para todo o mundo e palco de importantes lutas democráticas no passado e no presente, estava manchado por um crime tão bárbaro. Dilma ressaltou, ainda, a falta de representatividade do atual governo, um governo de “homens, velhos e brancos” e se disse assustada por não imaginar que algum governo fosse capaz de atacar direitos conquistados pelo povo trabalhador nos últimos anos, como o Minha Casa Minha Vida, O Bolsa Família, O SUS e as políticas ligadas à área de educação e pesquisa, que foram responsáveis por levar milhões de jovens brasileiros às universidades. Dilma fez questão também de lembrar que apresentou essa semana sua defesa no Senado e que os vazamentos de áudios dos últimos dias, por si só, provam que o Golpe é Golpe e que o que mais incomoda a um golpista é ser chamado de golpista, assim sendo, sua presença na arena política nacional e internacional é um incomodo para eles. Por fim, Dilma reafirmou que nunca pretendeu e nem pretende renunciar, destacando que já enfrentou muitas lutas em sua vida: a tortura, o câncer e agora o golpe e que, assim como nos demais casos, espera dar a volta por cima e retornar à presidência. Durante vários momentos em sua fala, o povo que lotava a Praça XV entoou gritos de apoio e incentivo à nossa legítima presidenta, entre eles o famoso “Volta, Querida!”.

Praça XV lotada recebe a legítima presidenta, Dilma Rousseff.
Praça XV lotada recebe a legítima presidenta, Dilma Rousseff.

Fechando a semana, ocorreu na Sexta-Feira, dia 03 de Junho, o encontro entre os pré-candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro, Alessando Molon do REDE, Jandira Feghali do PCdoB e Marcelo Freixo do PSOL, que discutiram sobre estratégias de campanha e possibilidade de candidatura única. No encontro, os pré-candidatos definiram pela manutenção das candidaturas individuais, mas fecharam um pacto de não agressão no primeiro turno e uma aliança contra a direita, principalmente o possível candidato do PMDB, Pedro Paulo, em um possível segundo turno, no qual algum deles esteja presente. Dentro da atual conjuntura de avanço das forças conservadoras e ataques à esquerda, principalmente aos comunistas e socialistas, é provável que essa não tenha sido a melhor decisão, uma vez que além da candidatura do PMDB, com Pedro Paulo ou não, já que o nome dele enfrenta muitas resistências, existe ainda o apontamento para as candidaturas de Carlos Osório pelo PSDB, Marcelo Crivella pelo PRB e Carlos Bolsonaro pelo PSC, o que pode dificultar a ida de algum deles para o segundo turno, lembrando que a esquerda no Rio de Janeiro tem amargado resultados ruins nas últimas cinco eleições, sendo 1992 a última vez que um candidato da esquerda chegou ao segundo turno, quando Benedita da Silva pelo PT perdeu a eleição daquele ano para César Maia, então no PMDB. Entre as eleições de 1996 e 2008 nenhum candidato da esquerda chegou ao segundo turno e na última eleição em 2012, embora o candidato do PSOL, Marcelo Freixo, tenha ficado em segundo lugar na disputa, não houve segundo turno, uma vez que o atual prefeito Eduardo Paes foi reeleito em primeiro turno com 64,6% dos votos, enquanto Freixo obteve apenas 28,1%. A superação de questões internas dentro da esquerda, a construção de uma plataforma unificada de lutas e de propostas práticas para o conjunto da sociedade e a unidade, ainda que pontual, da esquerda e das forças progressistas, é condição fundamental e deve ser uma prioridade de todos os partidos e movimentos, institucionais ou não, para a resistência contra o golpe, a reconquista da democracia e o avanço na direção do socialismo.

 

 

 

 

 

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