A BANDEIRA DO DESARMAMENTO E A LUTA REVOLUCIONÁRIA

Neste ano estamos comemorando os 100 anos da Revolução Russa. Em outubro de 1917 operários armados, dirigidos pelo Partido Bolchevique, lograram sucesso em seus intentos revolucionários, derrubando o governo burguês e erigindo em seu lugar a primeira nação socialista. Nascia o primeiro Estado proletário (semi-Estado) do planeta, mudando não só a história da sociedade russa, mas de toda sociedade humana. Este grandioso feito tem significado extremamente importante pois, por meio dele, a classe operária e sua vanguarda revolucionária, puderam ver de maneira concreta que o seu guia prático para a ação (o marxismo) é uma ciência real. A partir dali, e mais do que nunca, a teoria revolucionária passa a ser testada na prática.

É indispensável para o setor consciente do proletariado aprender com as experiências revolucionárias no mundo todo, para, com isso, desenvolver sua própria experiência revolucionária. Alcançada a libertação da classe operária de sua nação, os movimentos dos trabalhadores contribuem diretamente para a luta internacional da classe operária do mundo todo.

Logo, comemorar os 100 Anos da Revolução Russa sem apreender lições deste processo, sem buscar uma reflexão que nos impulsione em nossa própria luta revolucionária, nada tem de avançado. Arrisco a dizer, que neste sentido, nos aproximamos da lógica burguesa historiográfica, de ufanismo, dogmatismo, defesas do estoicismo etc., o que nada tem a ver com o marxismo. Dizia Marighella que o dever de todo revolucionário é fazer a revolução e, por isso, para nós do PC não há melhor maneira de comemorar os 100 anos da revolução russa, do que resgatando seus princípios táticos e estratégicos. Resgatar o marxismo-leninismo como a ciência revolucionária que o é, para que jamais esqueçamos de aprender com a mais importante experiência revolucionária proletária do planeta.

Neste ano de 2017, vimos em nosso país e em muitas partes do mundo, ganharem força as palavras de ordem que defendem o desarmamento. A crescente insegurança, representada na prática pelos aumentos diários nos índices de homicídios, assaltos, entre outros, consolidam no seio dos movimentos sociais o discurso de que desarmar é necessário. Essa palavra de ordem passa a ser assumida por grandes e significativos setores da sociedade, inclusive de lideranças, partidos e organizações do campo popular. Não é raro vermos por parte da esquerda brasileira, manifestações a favor do desarmamento, normalmente fundamentadas sobre o destaque dos “altos índices de violência e insegurança”.

Ao analisar a preocupação com a insegurança e relacioná-las com a questão das armas, esquecem-se estes companheiros de que a insegurança e seus índices de homicídios e assaltos estão diretamente ligados com a questão da pobreza e da miséria. Então, diante do golpe de Estado em curso no Brasil e seus ataques aos direitos dos trabalhadores, os quais estão levando ao aumento da pobreza e da miséria, infelizmente a insegurança certamente seguirá crescendo. Ou seja, de nada adiantam as medidas que desarmam o povo. Para combater a insegurança se faz necessário combater a pobreza, a miséria, as desigualdades sociais, isto é, precisamos derrubar o golpe, o imperialismo, o capitalismo.

Dessa maneira, mesmo que podendo ser de forma inconsciente em alguns setores, a palavra de ordem que defende o desarmamento é extremamente reacionária, pois desvincula o real problema da insegurança (a exploração capitalista e seus desdobramentos – fome, miséria, injustiça social…) deixando de travar este importante e radical debate. Além disso, cumpre um papel contrarrevolucionário e é neste ponto que nos debruçaremos agora. Giap, no seu texto “Armamento das Massas Revolucionárias. Edificações do Exército do Povo” cita um trecho de Engels no qual ele analisa os intentos burgueses de desarmar o proletariado já imediatamente após a tomada do poder destacando que “para os burgueses que se encontravam no poder, o primeiro trabalho era então desarmar os operários. Assim, depois de cada revolução conseguida com o preço de sangue dos operários, rebenta uma nova luta, que termina com a derrota destes”.

O objetivo burguês de desarmar as massas proletárias faz todo sentindo em sua própria lógica. Como afirma Marx em “O Manifesto do Partido Comunista”, a classe operária é a única classe verdadeiramente revolucionária, já que não tem nada a perder, a “não ser os grilhões que os prendem”. Logo, para burguesia desarmar seus coveiros, aqueles que para superar sua situação de explorados, precisam necessariamente derrubar revolucionariamente a burguesia, é algo latente e urgente.

Como já havia afirmado, inconscientemente ou não, na bandeira do desarmamento está contida uma mensagem contrarrevolucionária. Embora sua pauta se desenvolva contra os altos índices de homicídios cometidos com arma de fogo, sua essência apresenta o real objetivo de afastar cada vez mais as possibilidades de revolução proletária, manter o poder burguês, a exploração e a escravidão assalariada. Lênin demostra isso no seu texto “O Programa Militar da Revolução Proletária”:

Uma classe oprimida que não aspire a aprender a manejar as armas, a possuir armas, tal classe oprimida mereceria apenas ser tratada como são tratados os escravos. Pois não podemos esquecer, sem nos transformarmos em pacifistas burgueses ou oportunistas, que vivemos numa sociedade de classes e que dela não há nem pode haver outra saída que não seja a luta de classes. Em qualquer sociedade de classes, seja ela baseada na escravatura, na servidão ou, como agora, no trabalho assalariado, a classe opressora está armada. Não só o actual exército permanente, mas também a actual milícia, mesmo nas repúblicas burguesas mais democráticas, por exemplo na Suíça, são o armamento da burguesia contra o proletariado. Esta é uma verdade tão elementar que talvez não haja necessidade de nos determos nela em especial. Basta lembrar o emprego de tropas contra os grevistas em todos os países capitalistas.

No Brasil a confusão em torno do tema parece aumentar quando figuras abertamente fascistas bradam contra o desarmamento. Mas, ao fazerem isso, deixam de proclamar que o “cidadão de bem” a que eles defendem o direito de se armar, são os ruralistas, banqueiros, os capitalistas e não o povo pobre, que vive nas periferias, nas favelas, nos bairros. Quem conhece bem a ideologia fascista, sabe muito bem que ela não defende que a classe trabalhadora e os movimentos sociais tenham armas. Ou é possível acreditar que Jair Bolsonaro defenda que o MST esteja armado para enfrentar as agressões do latifúndio?! Que os sindicalistas tenham acesso à armas para enfrentar as tropas burguesas ou os grupos de extermínio da direita?! Que o proletariado esteja armado para acabar com a exploração capitalista?!

Nós do PC remetemos à Revolução Russa de 1917, onde seria impossível aos proletários tomar o poder se não fosse utilizando-se das armas, pois, como afirmou Mao Tsé-Tung, “a revolução não é um convite para um jantar”. Já Clausewitz dizia que a guerra nada mais é do que a continuação da política por outros meios e Marx destacava que a violência é a parteira de toda velha sociedade, grávida de uma sociedade nova. Engels adiciona que ela (a violência) é a arma com a qual o movimento social abre caminhos e quebra formas políticas petrificadas e mortas, isto é, a guerra revolucionária é uma guerra, um embate necessário para que o proletariado alcance o que alcançaram o operariado e o campesinato russo. Esse embate nada mais é do que a continuação da política dos comunistas por outros meios indispensáveis, pois, sem estes meios, não conseguiremos jamais a liberdade tão urgente à classe trabalhadora, a construção da sociedade socialista. Sem este embate violento, seguirá o proletariado sendo vítima da violência opressora diária, seguirá o sacrifício sanguinário do proletariado para manter o lucro e o poder burguês.

Não temos dúvida que a paz tão almejada pelo povo e por nós comunistas, só será possível com o fim da exploração, com o fim do capitalismo. Alguns setores buscam apontar para uma saída pacífica dentro deste sistema, para uma conciliação, defendendo que não se derruba o capitalismo, mas torna-o mais justo, mais social, ou transforma-se o sistema de forma pacífica. Infelizmente estas possibilidades não passam de um engodo oportunista, que demonstra no mínimo desconhecimento das leis que regem o sistema capitalista. Quanto maior for a exploração que é submetida o proletariado, maior será a riqueza do burguês, maior o seu poder e dentro deste sistema, toda e qualquer tentativa de pôr término a isso será violentamente rechaçada pela burguesia e suas armas. Não é possível conciliar os interesses antagônicos da burguesia e do proletariado. Engels, na obra “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” destaca sobre a sociedade capitalista que “essa sociedade se embaraçou numa insolúvel contradição interna, se dividiu em antagonismos inconciliáveis de que não pode se desvencilhar.”

Portanto, a paz, tão almejada por nós revolucionários e pelo povo, só será possível, do ponto de vista proletário, com o triunfo da revolução comunista. Por isso, defender o acesso do proletariado as armas é uma posição acertada e que garante um importante passo na luta pela revolução comunista; os bolcheviques nos deixam esta lição na sua experiência em 1917.

Contra o desarmamento!

Viva os 100 anos da Revolução Russa!

Abaixo o golpe!

Fora Temer!

Everton Barboza

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