O golpe e as novas tarefas do movimento popular, por Everton Barboza

Everton Barboza: Não ao golpe, agora é luta!

Por: Everton Barboza

Observamos hoje no Brasil um golpe em andamento. Nós do PC já denunciávamos o movimento golpista desde as manifestações de junho de 2013. Mesmo diante da euforia de grande parte da esquerda que vibrava ao afirmar que “o gigante havia acordado”, nossa organização indicava que somente com a lógica de que “movimento é tudo e objetivo é nada”, poderia se acreditar que aquelas manifestações, sem pautas definidas, transmitidas ao vivo e incentivadas pelos monopólios de comunicação (principalmente da Rede Globo) representavam movimentos da classe trabalhadora. Denunciávamos que aqueles movimentos exaltados também pela direita e que repudiavam bandeiras vermelhas em suas fileiras, tinham o objetivo de levar o povo para as ruas, não para fazê-lo avançar, mas para combater um governo do campo popular. Um governo que, mesmo com seus limites, trouxe avanços para os pobres e importantes investimentos em políticas sociais, o que causa ódio na burguesia, ainda mais em momentos de crises do capital.

Passada a euforia das manifestações de junho o movimento golpista não parou e foi aos poucos se fortalecendo, ganhando terreno, até que fosse possível dar o derradeiro golpe e acabar com o ciclo de governos do campo popular no Brasil.

Pode-se perceber de forma mais clara a tentativa de golpe contra o governo da presidenta Dilma Roussef nas eleições de 2014. Mesmo utilizando-se das manifestações de 2013 para colocar o governo de Dilma em xeque e diminuir seus votos, a direita sai em grande desvantagem na corrida eleitoral, até que a morte do candidato Eduardo Campos (PSB) modifica o cenário, fazendo crescer a oposição ao governo e garantindo assim o segundo turno das eleições (havia grande probabilidade de Dilma ser eleita no primeiro turno das eleições de 2014, antes da morte do candidato). No segundo turno da referida eleição, víamos o ataque dos meios de comunicação, (que constantemente lançavam novas calúnias sobre os governos do PT e seus aliados, acusando-os de corrupção e de incapacidade para gerenciar o governo) e ao mesmo tempo a presidenta que, encurralada, lutava para não perder o apoio da maioria da população.

Com muita dificuldade diante dos oligopólios de comunicação e de suas acusações criminosas, a presidenta Dilma Roussef se reelege de forma apertada, garantindo seu segundo mandato e o quarto seguido de um governo mais identificado com o campo popular e progressista.

Naquele período nós do PC afirmávamos que, ou governo reeleito aliava-se de vez com o povo brasileiro e declarava guerra aos monopólios de comunicação e a burguesia, dando uma guinada para a esquerda, ou fortaleceria o movimento golpista em nosso país. Infelizmente o que vimos foi que, diante do acirramento da crise estrutural do sistema capitalista, Dilma optou por tentar “acalmar” o movimento golpista com políticas antipopulares e em favor da burguesia. Foi isso que observamos na aplicação dos ajustes fiscais, na mudança no seguro desemprego e nos direitos de pensão por morte, na proposta de reforma da previdência, etc. O governo tenta manter-se, não aliado a classe trabalhadora, mas tomando medidas que garantem retrocessos nas conquistas de direitos populares. Porém, setores da burguesia nacional, aliados com o capital financeiro internacional, já haviam decidido pela necessidade de acabar o quanto antes com o governo Dilma. Tinham a urgência de garantir o pré-sal nas mãos do imperialismo estadunidense e a possibilidade real de, ao consolidar o golpe, impor uma derrota não apenas ao povo brasileiro, mas aos trabalhadores da América Latina e do mundo. O imperialismo tem total consciência de que ao combater um governo progressista no Brasil, erigindo um golpista, conservador, fascista em seu lugar, ganha um novo e importante fôlego no combate burguês aos governos progressistas e populares em Nossa América. É como nos dizia Chê Guevara, “… para onde pender o Brasil, pende a América Latina”. Por isso, o golpe no Brasil, não é um golpe apenas contra o povo brasileiro, mas, sem dúvida nenhuma, e sem exageros, é sim um golpe contra a classe trabalhadora mundial.

Diante disso o golpe avança em nosso país e as ações antipopulares de Dilma para tentar conter a crise política e econômica, geram confusões em algumas organizações de esquerda. Não percebendo com clareza o que estava em jogo, alguns setores da esquerda demoram para ir às ruas somando-se a luta contra o golpe e alguns deles até hoje não saíram. É o caso de algumas tendências internas do PSOL, o PCB, PSTU, etc., que não percebem que o golpe em curso não tem como foco estancar a política econômica antipopular do governo, mas ao contrário, mira nas políticas populares de Dilma. O ataque não é somente contra o governo, mas é um golpe contra a esquerda, contra os movimentos sociais e partidos políticos que combatem a burguesia, o sistema capitalista e/ou o neoliberalismo. Certamente a ofensiva dos golpistas não vai parar na derrubada do governo, mas avançará contra toda ação de resistência ao novo governo golpista e à sua política de submissão entreguista ao imperialismo. É com esta certeza que nós do PC em nenhum momento nos furtamos de travar a batalha contra o golpe, desde o princípio.

Como já era esperado o golpismo avança e aprova na Câmara dos Deputados (em um “circo dos horrores” que deixa o povo brasileiro abismado) a primeira etapa do fingido impeachment institucional, encaminhando para o Senado a incumbência de dar o golpe fatal e garantir o impedimento da presidenta Dilma Roussef. Diante disso, cabe aos representantes dos movimentos populares a tarefa de discutir, refletir e apontar o caminho que deveremos seguir.

Então, Partidos lançam suas avaliações e perspectivas. Alguns demonstram “jogar a toalha” e não ter disposição de travar a luta contra o golpe. É o caso do próprio PT, que segue pautado pelas instituições burguesas, buscando dentro deste campo reverter o irreversível. Embora algumas lideranças deste partido queiram ir às ruas dar o combate que merece ser dado contra este golpe, são sufocados pelas suas direções e pelo próprio governo que não dá nenhuma demonstração de disposição de partir para o enfretamento das ruas contra o golpe. Já o PSB, partido que tradicionalmente ocupou as trincheiras do campo popular, havia dado demonstrações claras de que mudou de lado e assumiu a linha ideológica da direita. Desde as eleições de 2014 era possível perceber claramente a guinada para a direita dada por este partido, que no atual momento, está oficialmente favorável ao golpe.

Mas devemos nos dedicar atualmente à palavra de ordem lançada por algumas lideranças do campo popular e oficialmente pelo PC do B: Eleições Gerais. Tal proposta tem como orientação a exigência de um novo processo eleitoral, que elegeria vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores e presidente da república. Cabe ressaltar que esta proposição legitima o golpe, pois ao invés de combatê-lo e denunciá-lo, muda o foco da discussão, não só aceitando-o, já que se cala diante do criminoso retrocesso popular e do avanço burguês garantido pelo golpismo, mas respaldando-o. Esta palavra de ordem serve apenas para deixar claro, mais uma vez, o capitulacionismo do PC do B.

A efetivação de Eleições gerais, diante do grande ataque ofensivo e criminoso da mídia golpista, seria apenas para consolidar o golpe, já que quem poderia convocar eleições gerais é o Congresso Nacional, o mesmo Congresso que está protagonizando o golpismo. Sabemos que a grande maioria destes parlamentares só o faria com a certeza de que nenhum candidato do campo popular tivesse chance de ganhar as eleições. Não podemos cair na ilusão ou na inocência de acreditar que a burguesia enfrentaria os transtornos de dar um golpe, para em seguida correr o risco de ter que devolver o governo para os golpeados. Aí dirão os capitulacionistas: “mas com o povo exigindo eleições gerais, pressionando o Congresso a ponto de acuá-lo, os parlamentares não terão saída e serão obrigados a convocar as citadas eleições”. Bom, se isto é real, se existe mesmo essa possibilidade, não faz nenhum sentido deixar de mobilizar esta forte pressão popular contra o golpe. Aceitaremos o golpe, o legitimaremos e após mobilizaremos a pressão popular por eleições gerais? Parece até brincadeira!

De forma alguma podemos pensar em aceitar o golpe para darmos um contra golpe. Temos a dificuldade de reverter este quadro sim! Mas em nossa avaliação a única chance que temos, passa por um grande esforço de dizer não ao golpe em curso, passa pela mobilização do povo para lutar contra este golpe. Devemos conscientizar as massas de que o que está ocorrendo é um golpe contra a classe trabalhadora. Devemos desenvolver ações que contribuam para esta denuncia e para garantir a maior mobilização popular possível. Precisamos provocar uma inquietação do povo que incendeie o Brasil nas ruas. Instigar a luta das massas ofensivamente e sem vacilo contra o golpe.

Sabemos que hoje a conjuntura está desfavorável e que uma mobilização com este caráter não é fácil de ser conquistada, mas temos completa convicção que só com a unidade da esquerda em busca deste tipo de mobilização popular (combativa, ofensiva, nas ruas, massiva) temos possibilidade de reverter o quadro golpista.

Em 2002, na Venezuela, após um golpe contra o presidente Hugo Chavez, que inclusive foi preso e já estava em vias de deportação para os EUA, o povo garantiu a derrota dos golpistas após uma grande e massiva luta popular nas ruas, luta que incendiou o país e só calmou no momento em que Hugo Chavez foi reconduzido a presidência. Lógico que não é possível comparar a conjuntura venezuelana daquele momento com a atual conjuntura brasileira, mas a luta do povo da Venezuela nos dá um exemplo claro do caminho a ser traçado se queremos realmente ter sucesso contra o golpismo.

Diante disso, nós do PC, enxergamos a necessidade de os partidos de esquerda e os movimentos sociais como um todo, encaminharem a mobilização de uma greve geral contra o golpe. Uma greve geral que cause um impacto no setor produtivo nacional e que sirva como um estopim para acender um barril de pólvora que seria a luta popular e massiva da classe trabalhadora. A greve geral não se bastaria por si só, mas teria o objetivo de dar um importante “ponta pé inicial” rumo a um novo nível de luta da classe trabalhadora exigida pela atual conjuntura: combativa, ofensiva e nas ruas. Esta luta deve incendiar o Brasil mobilizando e incentivando o povo na luta, não para defender um governo, mas sim para proteger seus direitos, dizer não à ofensiva golpista da burguesia e ter força de realmente afirmar: Não passarão!

As atuais dificuldades e a certeza de que a legalidade já não existe mais, de que as instituições burguesas não titubearão em consolidar o golpe, exigem dos lutadores progressistas a disposição de fazer valer nossa palavra de ordem que indicava: Vai ter luta! Não podemos deixar que o “vai ter luta” seja apenas retórica. Agora é o momento de construir a maior ofensividade possível, pois do contrário a vitória golpista e a derrota da classe trabalhadora, nesta luta, é certa!

Nós do PC temos certeza que vencer os golpistas é possível, mais do que isso, uma mobilização com este caráter que propomos tem grandes chances de elevar o nível de mobilização e organização da classe trabalhadora do ponto de vista revolucionário. A dialética demonstra que diante de um momento difícil como este há possibilidade de virarmos o jogo na luta contra o golpe. Mais do que isso, uma vez dada a resposta precisa e necessária para o golpismo, uma virada como esta pode provocar a instauração de uma nova conjuntura impulsionadora da luta revolucionária. Se de fato conseguirmos avançar neste sentido, estaremos dando um grande salto rumo à construção das condições subjetivas populares, que possibilitarão a derrubada da burguesia e de seu sistema capitalista e a construção da revolução rumo ao sistema socialista.

Greve geral contra o golpe já!!!

Não ao golpe, agora é luta!!!!

Viva o Partido Comunista!!!!

Viva a luta da classe trabalhadora!!!

Everton Barboza

Partido Comunista

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